terça-feira, 22 de setembro de 2009

Os que eletrizaram;

Embora nos iluminemos apenas de um instante e os que eletrizaram, por via da participação misteriosa, sigam. O que seria da vida e do pensamento se não houvesse oportunidades semelhantes? As idéias e valores existem ante nós como alvos inatingíveis, e o nosso destino é tender a eles. Por isso a vida é uma tendência sem fim, excetuados os momentos de plenitude que suspendem a corrente do tempo. Não obstante, enquanto permanecermos de um lado, e os valores de outro, o esforço e a lucidez da nossa visão serão mais ou menos frouxos. Na vida, só sentimos a realidade dos valores a que tendemos, ou que pressentimos, quando nos pomos em contato com certos intermediários. A abstração e o sentimento adquirem vida e somos capazes de sentir plenamente, viver os valores. Ao contrário da vida, que dispersa, os que eletrizam o instante condensam e unificam extraordinariamente; daí se imporem como um bloco e fazerem ver a vida como um bloco, que nos afasta por um momento da mediania e impõe uma necessidade quase desesperada de vida autêntica.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Sentimento sem nome

"Mas eu não quero ter vergonha de nada que eu seja capaz de sentir. Tento não ficar assustado com a idéia que este tempo aqui é curto."
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Por isso, o que eu tiver pra falar, eu vou falar. Só não sei por onde começar, se eu nem mesma sei como pode existir algo tão intenso assim. Simplesmente foge de mim. Pertencia àquela espécie de gente que mergulhava nas coisas às vezes sem saber por que, não sei se na esperança de decifrá-las ou se apenas pelo prazer de mergulhar. Essas são as escolhidas — as que vão ao fundo, ainda que fiquem por lá.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

A hora da Estrela

Todo mundo começou com um sim. Uma molécula disse sim a outra molécula e nasceu a vida. Mas antes da pré-história havia a pré-história da pré-história e havia o nunca e havia o sim. Sempre houve. Não sei o que, mas sei que o universo jamais começou.
Que ninguém se engane, só consigo a simplicidade através de muito trabalho.
Enquanto eu tiver perguntas e não houver resposta continuarei a escrever. Como começar pelo início, se as coisas acontecem antes de acontecer? Se antes da pré-pré-história já havia os mostros apocalípticos? Se esta história não existe, passará a existir. Pensar é um ato. Sentir é um fato. Os dois juntos - sou eu que escrevo o que estou escrevento. A verdade é sempre um contato interior e inexplicável. A minha vida a mais verdadeira é irreconhecível, extremamente interior e não tem uma só palavra que a signifique. Meu coração se esvaziou de todo desejo e reduz-se ao próprio último pulsar. A dor de dentes que perpassa esta história deu uma fisgada funda em plena boca nossa. Então eu canto alto agudo uma melodia sincopada e estridente - é a minha prórpia dor, eu que carrego o mundo e há falta de felicidade. Felicidade? Nunca vi palavra mais doida, inventada pelas nordestinas que andam aí pelos montes.

*~

Embora só tivesse nela a pequena flama indispensável: um sopro de vida. (Estou passando por um pequeno inferno com esta história. Queriam os deuses que eu nunca descreva o lázaro porque senão eu me cobriria de lepra.) (Se estou demorando um pouco em fazer acontecer o que já prevejo vagamente, é porque preciso tirar vários retratos dessa alagoana. E também porque se houver algum leitor para essa história quero que ele se embeba da jovem assim como um pano de chão todo encharcado. A moça é uma verdade da qual eu não queria saber. Não sei a quem acusar mas deve haver um réu.)
Será que entrando na semente de sua vida estarei como que violando o segredo dos faraós? Terei castigo de morte por falar de uma vida que contém como todas as nossas vidas um segredo inviolável? Estou procurando danadamente achar nessa existência pelo menos um topázio de esplendor. Até o fim talvez o deslumbre, ainda não sei, mas tenho esperança.

C.L.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Insuportável

É assim que me sinto hoje.
A incompreensão e a voluntariedade da incompetência humana extravazaram meu limite do suportável.
Estou cansada de ver pessoas discutindo a competência das outras (não no sentido de poder, mas de capacidade mesmo).
Tudo bem, essa última frase foi um dos eufemismos mais baratos que alguém poderia criar para competitividade, mas confesso que não vou perder meu tempo procurando palavras criativas.
Não hoje.
Hoje eu pensei o dia inteiro em como deve ser interessante a vida dos eremitas.
Não tem ninguém pra encher o saco, ninguém pra explorar sua sanidade, ninguém pra te proporcionar, conscientemente, o sentimento de solidão que todos nós evitamos...
Carinho, afeto, afago? Pelos meus últimos posts aqui acho que já deu pra notar minha desesperança nesse lado bom das pessoas...
Hoje eu quis, mais uma vez, uma passagem só de ida para Plutão. É o planeta mais distante do Sol, o último do Sistema Solar, mas principalmente, o mais distante da Terra.
Nunca me senti tão mal por ser humana como hoje.
Nunca me deparei tão de frente com minhas imperfeições, e com toda minha impaciência como hoje (e olha que eu já fiz isso váaaaaaaarias vezes).
Nunca quis ser um pássaro e voar para bem longe TANTO quanto eu quis hoje.
E agora acabo de perceber que hoje já é ontem.
Mas essa angustiante sobrevivência não cessa, e isso é o bastante para me cansar pelos próximos 30 anos.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Cheiros

Tem gente que tem cheiro de passarinho quando canta. Ao lado delas, a gente se sente no balanço de uma rede, que dança gostoso numa tarde grande, sem relógio e sem agenda. O tempo é outro. E a vida fica com a cara que ela tem de verdade, mas que a gente desaprende de ver.

Tem gente que tem cheiro de banho de mar, quando a água é quente e o céu é azul. Ao lado delas, a gente sabe que os anjos existem e que alguns são invisíveis. Ao lado delas, a gente se sente chegando em casa e trocando o salto pelo chinelo. Sonhando a maior tolice do mundo com o gozo de quem não liga pra isso. Ao lado delas, pode ser abril, mas parece manhã de Natal, do tempo em que a gente acordava e encontrava o presente do Papai Noel. Ao lado delas, a gente se sente visitando um lugar feito de alegria. Recebendo um buquê de carinhos. Tocando com os olhos os olhos da paz.

Tem gente que tem cheiro de cafuné sem pressa. Do brinquedo que a gente não largava. Do acalanto que o silêncio canta. Ao lado delas, a gente percebe que a sensualidade é um perfume que vem de dentro e que a atração que realmente nos move não passa só pelo corpo. Corre em outras veias. Pulsa em outro lugar. E a gente ri grande que nem menino arteiro.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Sistema

Enquanto pessoas perguntam por que, outras pessoas perguntam por que não?
Até porque não acredito no que é dito, no que é visto.
Acesso é poder e o poder é a informação. Qualquer palavra satisfaz. A garota, o rapaz e a paz quem traz, tanto faz. O valor é temporário, o amor imaginário e a festa é um perjúrio. Um minuto de silêncio é um minuto reservado de murmúrio, de anestesia. O sistema é nervoso e te acalma com a programação do dia, com a narrativa. A vida ingrata de quem acha que é notícia, de quem acha que é momento, na tua tela querem ensinar a fazer comida uma nação que não tem ovo na panela que não tem gesto, quem tem medo assimila toda forma de expressão como protesto.

domingo, 6 de setembro de 2009

Aqueous Transmission

Mar ...

Dia qualquer e essa saudade me trouxe
Não quis pensar, pausei tudo aqui em mim
Antes que o tempo me engolisse lentamente
Sem traçar caminhos, decorei as idas e vim
Em frente ao mar imenso, imolar essa imagem
Este azul profundo que me impregnou a alma
Corpo inteiro imerso nas águas dessa paisagem
A pele macia da mão do mar acariciou-me
Na garganta da noite, todo o meu sentir pausado
Vou, deixo atrás o mar, e nele meus fragmentos
Questionando-me as voz rouca dos pensamentos

sábado, 5 de setembro de 2009

Heath Ledger dizia que:

"As pessoas sempre se sentem obrigadas a resumir você, a presumir que o entendem e que podem lhe descrever. Sem problema. Mas existem muitas histórias dentro de mim e o desejo de obter conquistas sem ter de me transformar em um estereótipo."

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Diálogo

— E você, por que desvia o olhar? (Porque eu tenho medo de altura. Tenho medo de cair para dentro de você. Há nos seus olhos castanhos certos desenhos que me lembram montanhas, cordilheiras vistas do alto, em miniatura. Então, eu desvio os meus olhos para amarra-los em qualquer pedra no chão e me salvar do amor. Mas, hoje, não encontraram pedra. Encontraram flor. E eu me agarrei às pétalas o mais que pude, sem sequer perceber que estava plantada num desses abismos, dentro dos seus olhos.)

— Ah. Porque eu sou tímida.

O Ser, além do que se vê